"Numa cidade de garimpo do pará, conflagrada pelas tensões de uma corrida do ouro, um fotógrafo vive uma paixão clandestina com uma mulher misteriosa e sedutora. Mesmo sabendo dos riscos do jogo, ele decide ir até o fim - e agora está de volta para relatar o que viveu."
Sinopse na contra-capa do livro.
Sinopse na contra-capa do livro.
Marçal Aquino não é um mero estreante escritor
brasileiro, ao contrário, é jornalista, roteirista e escritor bastante
conhecido; eu é que, sem ainda entender como, ainda não tinha lido nada sobre
ele e ou suas obras.
O meu primeiro contato com o nome Marçal de Aquino
foi através de uma entrevista onde a atriz Camila Pitanga fala sobre o filme Eu receberia as piores notícias de seus
lindos lábios, do qual é a protagonista. Fiquei extremamente interessada
pela história e resolvi que veria o filme tão logo chegasse aos cinemas da
minha cidade, se chegasse! Mas quando ela mencionou que o filme fora baseado no
livro homônimo de Marçal de Aquino, aí sim meus olhinhos brilharam, e tudo
ficou ainda melhor!
Eu receberia
as piores notícias de seus lindos lábios, é um título que por si só já nos
remete ao passional; é lindo e atraente, nos pega pela mão com a promessa de
nos proporcionar um entretenimento de qualidade ímpar, de puro prazer e deleite.
E assim ele se cumpre!
A história se trata da paixão avassaladora entre
Cauby, um fotógrafo quarentão, bonito, sedutor, inteligente, que adora música
clássica e tem uma plantação de maconha no quintal de sua casa; e Lavínia, uma
mulher sedutora, casada, misteriosa, cíclica e que se entrega sem reservas a essa
relação visceral e única. Lavínia é casada com o pastor evangélico Ernani, um
personagem que, a princípio, parece bastante alheio e fora do contexto da obra,
mas é só aparência. O romance ainda tem como cenário uma cidade pequena do Estado
do Pará, onde a tensão entre mineradoras e garimpeiros é praticamente palpável,
devido a mais uma “corrida do ouro”. Cauby e Lavínia se conhecem na loja de
Chang, um pedófilo que é o dono da única loja de artigos fotográficos da cidade,
onde costuma se divertir e fotografar meninos que seduz.
A narrativa
criada por Marçal Aquino é crua, mas no sentido de ser natural, direta e
simples, sem firulas nem rodeios, onde o lirismo de muitas passagens dialoga
perfeitamente com o chulo, o vulgar de outras. O romance é narrado no presente,
mas não é, digamos, sequencial. Aquino nos leva adiante e retrocede como se
estivéssemos na mente de Cauby; permitindo-nos ver relances do que acontecerá e
do que se passou com os personagens, nos deixando sempre intrigados e em
suspense para realmente chegarmos ao clímax da obra! Ele ainda amarra muito bem
a narrativa com as inúmeras citações do filósofo Schianberg, que é um filósofo
fictício, mas bem que torci pra ser real e publicado!
O livro é dividido em quatro partes com subtítulos
tão bons quanto o título: "O amor é sexualmente
transmissível", "Carne-viva", "Postais de Sodoma à luz do
primeiro fogo" e “Poema escrito com bile”. Quase todos os capítulos são
narrados pela voz do Cauby, com exceção de “Carne-viva”, que nos é apresentado
por um narrador onisciente.
Em "O amor é sexualmente transmissível",
a narração tem um tom urgente, quente onde a paixão de Cauby e Lavínia é quase
palpável. No entanto, Lavínia ainda se afigura como uma incógnita; e a vontade de
sabermos mais sobre ela nos assoma de tal forma que quase nubla a apresentação
de outros personagens tão interessantes, como o Careca [Altino], que relata toda
noite seu amor platônico por Marinês; o menino, que fica sempre escutando as histórias
do Careca e diz que escreverá um livro; a dona da pensão, a Dona Jane, entre
outros. E a presença de Ernani, marido de Lavínia, é praticamente ignorada.
No entanto é na segunda parte do romance que o
pastor Ernani toma forma diante de nossos olhos; e também nos é apresentada, de uma forma direta e sem
rodeios, a “verdadeira” Lavínia. Toda a
sua triste história se desenrola aos nossos olhos que se inundam a cada página.
É muita dor, solidão e violência para uma única pessoa suportar, então fica um
pouco mais claro o porquê de Lavínia ser “dupla”! A partir de toda essa
apresentação, é que vemos também o relacionamento de Ernani e Lavínia se desenrolar,
e não há como nos permitir o engodo, nada é somente gratidão nesse romance,
muito menos a relação desse casal.
Nesse capítulo ainda perceberemos que a estrutura
narrativa muda um pouco; nos diálogos não há o costumeiro travessão, mas nada
que atrapalhe a leitura, ao contrário, é um recurso que nos permite interagir ainda
mais com a obra, pois os diálogos são construídos de forma surpreendente!
Nas duas últimas partes de Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, nos vemos diante
de mudanças nos relacionamentos, que se afiguram primeiramente sutis, como em
todo início de
relacionamento e que vão ganhando proporções cada vez maiores e mais urgentes.
É aqui que percebemos os ciúmes de Cauby, a necessidade de ficar cada vez mais
perto de Lavínia, e a sua resolução em se afastar, numa espécie de lampejo de
razão diante de toda anunciação da provável tragédia, que, por sinal, ele
anuncia logo na primeira página do romance.
Ainda é nesse ponto da obra que percebemos, diante
de tantos personagens intrigantes, intensos e tão incrivelmente construídos,
que não há heróis nem vilões, que tudo o que cerca o romance é a pura realidade
humana, com sua crueza e leveza, defeitos e virtudes convivendo em quase
harmonia; onde o destino é quem os enlaça e os tange pelos caminhos, mesmo que sejam
diferentes e cada um, em separado, seguindo o seu. O final do livro, mesmo
diante de tanta anunciação, é surpreendente e nos deixa ainda mais encantados!
Há em Eu
receberia as piores notícias de seus lindos lábios tantos detalhes, paradoxos
e entrelinhas que é quase impossível falar dele sem comprometer o enredo. É
simplesmente uma obra incrível e que deve ser lida com paixão, com tempo e que
seja infinita, mesmo que a sua leitura dure apenas um dia, com o perdão do
trocadilho! ;oD
Autor: Marçal Aquino
Capa: Kiko Farkas / Máquina Estúdio e Elisa Cardoso/ Máquina Estúdio
Páginas: 232
Formato: 14.00 x 21.00 cm
Acabamento: Brochura
Lançamento: 31/10/2005
ISBN: 9788535907360
Selo: Companhia das Letras
Um comentário:
Olá !
Como você mesma disse, o título por si só é um convite a leitura dessa história.
Parece muito interessante e não sei porque mas gosto muito de histórias que não tem vilões ou bonzinhos, a vida não é assim, porque tem que ser nos livros?
Sei que mostrar tudo em preto e branco é um costume comum seja lá em qual tipo de história que se esteja contando (livro, filme, série ...) mas a vida na verdade, é em muitos tons de cinza (sem referências aqui aquele livro horroroso :p) mas a verdade é que existe muitas nuâncias e que isso deva se retratar nas histórias contadas por aí.
adorei o post!
abraços
Melissa
Olá !
Eu faço muito essas compras no escuro, quando não sei nada sobre o autor ou a história. É sempre um chute no escuro,mas as vezes vale a pena, porque livros que você nunca imaginou nos surpreendem muito.
abraços
Melissa
decoisasporai.blogspot.com.br
Postar um comentário